Drones, sensores, aplicativos, piloto automático, softwares de gerenciamento de dados. Esses termos têm se tornado cada vez mais comuns e usuais no agro, agregando à produção e promovendo rentabilidade
Texto: Marluce Corrêa Ribeiro – Jornalista e Redatora do Portal Agromulher
Seja na agricultura ou na pecuária, as tecnologias têm contribuído de forma significativa com a rentabilidade, produtividade e qualidade de vida do produtor e da sua equipe. O produtor precisa estar atento às tendências do mercado e às tecnologias lançadas. As novidades surgem em tempo recorde e o profissional também precisa se atualizar constantemente.
A agricultura de precisão, por exemplo, a cada dia ganha um incremento e algo que facilite e otimize a produção. Isso faz parte da realidade de muitos produtores e profissionais da área. Um desses profissionais que estão em constante contato com a tecnologia e com a aplicação dela em campo é o Engenheiro Agrícola e Mestre em Proteção de Plantas, Paulo Diniz, que atualmente é Especialista de Suporte ao Produto na fábrica de pulverizadores e colhedoras de cana de uma multinacional do segmento.
Paulo destaca que “as máquinas agrícolas, principalmente os pulverizadores, estão cada vez mais tecnológicos, deixando de ser apenas funcionais, como era um tempo atrás. A tecnologia embarcada nessas máquinas como piloto automático, GPS, computador de bordo, multimídia, comunicação via satélite, internet, e controles automáticos de várias funções, visa uma maior precisão durante as aplicações, otimização de recursos e o conforto do operador”.
Entre as principais vantagens do uso da tecnologia, Paulo Diniz destaca “o monitoramento dos dados que possibilita ao produtor saber o exato momento e quantidade certa de recursos a ser utilizada”.
Paulo, que trabalha diretamente com suporte de tecnologia em pulverizadores, pontua também sobre as tendências comportamentais dos produtores. “Os agricultores estão cada vez mais abertos as novas tecnologias, inclusive cobram isso dos novos produtos lançados. Uma das causas disso, na minha opinião, seria a presença da nova geração de agricultores, que são os filhos e netos dos atuais produtores. Essa nova geração, nascida nos anos 2000, acompanhou de perto o nascimento de muitas dessas tecnologias. Portanto, é comum que estejam habituados a elas e cobrem cada vez mais, em busca da otimização do manejo e redução de custos, visando melhorar o legado que seus pais e avós deixaram ou estão deixando em suas mãos”, salienta.
E quanto aos produtores que já estão na atividade há mais tempo, a busca por qualificação e atualização é constante. “Muitos produtores da ‘velha guarda’ não tiveram oportunidade de aprofundar nos estudos e hoje buscam inovar e atualizar-se no mercado tecnológico através de cursos e treinamentos, tanto para si próprios, quanto para seus funcionários, operadores e usuários dessas novas tecnologias”, declara Paulo.
Tecnologia em outras áreas do agronegócio
Na pecuária não é diferente. Inúmeras são as aplicações da tecnologia também na produção animal. Um termo que tem crescido cada vez mais no meio agropecuário é o conceito de zootecnia de precisão. Você já ouviu falar sobre isso?
A zootecnia de precisão consiste em um conjunto de tecnologias que aumentam os índices de produtividade no campo, facilitam o manejo na fazenda e ainda melhoram a qualidade de vida do pecuarista. Alguns exemplos de sua aplicação são a utilização de drones para monitorar o comportamento de rebanhos; o monitoramento para identificação de questões de sanidade e bem-estar nos animais, sem a interferência humana; o uso do GPS conectado a um colar, que mede o tempo que os animais ficam deitados ou em pé, além da distância que eles percorrem, entre inúmeras outras aplicações.
A Zootecnista Luciane Sperandio Floriano, que atua na área de Aquicultura e Tecnologia do Pescado, destaca que na aquicultura a tecnologia e o uso dessa zootecnia de precisão também podem contribuir muito com o manejo e aumentar a rentabilidade do negócio. Luciane cita um exemplo bem usual da aplicação da tecnologia na aquicultura.
“Um exemplo prático é a utilização de alimentadores automáticos para peixes, como tilápias no Brasil, que proporciona disponibilidade de ração para os animais 24 h por dia, menor custo com mão-de-obra, melhor conversão alimentar e desempenho, além da vantagem do fornecimento de ração que pode ser ajustado conforme os parâmetros químicos e físicos da água, reduzindo a sobra de ração e os impactos ambientais. Lembrando que a ração é o item mais caro no custo de produção do peixe, então toda a tecnologia que proporcione um manejo alimentar mais eficiente terá impacto positivo nos lucros”, relata a zootecnista que é Mestre em Aquicultura e Doutora em Ciência Animal também com foco em aquicultura.
Luciane ainda destaca outros exemplos que já fazem parte da realidade de produtores que trabalham com sistema intensivo e vasto uso de tecnologia. “Como outras aplicações da tecnologia na aquicultura podemos citar o uso de softwares e aplicativos para o cálculo de ração para organismos aquáticos; monitoramento em tempo real da qualidade de água em tanques e viveiros e acionamento de aeradores; alimentadores automatizados para peixes e camarões; utilização de microchips para marcação de matrizes e reprodutores de peixes, entre tantas outras”, pontua.
Quanto as vantagens nesse investimento em tecnologia dentro da atividade, a zootecnista destaca o “melhor controle da produção, aumento da eficiência produtiva, redução de custos, obtenção de dados para tomada de decisões e planejamento de ações futuras”. E quanto aos desafios, ela ressalta “a dificuldade dos produtores em entenderem a importância dessas tecnologias e a necessidade de adotá-las; e a necessidade dos profissionais/técnicos obterem conhecimento para a utilização das mesmas”.
Realidades distintas e seus desafios
O uso da tecnologia na agropecuária é amplo e também bem diverso. Varia desde uma tecnologia simples que colabora com a produção de um pequeno produtor até tecnologias super elaboradas que incrementam a produtividade do grande produtor. O fato é que a tecnologia, por mais simples que seja, pode fazer uma grande diferença em diversos aspectos da produção agropecuária e na vida do produtor.
Entretanto, muitos produtores de diferentes regiões do Brasil ainda não tem acesso às tecnologias, por inúmeros fatores. É o que afirma a produtora rural e Engenheira Agrônoma da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater Goiás), Daniela Gonçalves Rosa, que visualiza essa diferença de acesso dentro da realidade dos produtores que atende. “Aos poucos, alguns produtores vêm aderindo a tecnologias mais simples, porém no âmbito geral ainda é bem escassa. Essa escassez provém de diversos fatores, que variam desde a pouca escolaridade da maioria dos produtores, à falta de informações, que não chegam a todos com a mesma clareza”, declara ela.
Quanto às aplicações mais comuns para aqueles que têm acesso, Daniela destaca “os softwares de gestão de fácil manuseio, onde o produtor, pelo próprio aparelho celular, pode obter várias informações. Já para os que têm maior poder aquisitivo, o uso de tecnologias voltadas a agricultura de precisão são comuns, a exemplo do uso de GPS agrícola”.
Para Daniela, dentre os desafios encontrados para uso e aplicação de tecnologias nas pequenas propriedades rurais, talvez o principal seria a adaptação dos produtores e a aceitação deles em relação ao novo, “pois estão acostumados com o comodismo, e sair da zona de conforto assusta um pouco. Além disso, há também a resistência por parte de muitos devido a desinformação ou a forma como essa informação chega para ele”.
Daniela ainda destaca a importância dos profissionais apresentarem a tecnologia de forma coerente, respeitando a realidade dos produtores e o conhecimento prático que ele adquiriu com anos de experiência. É preciso mostrar ao produtor o quanto a tecnologia pode agregar àquilo que ele já faz em sua atividade. O radicalismo de querer mudar tudo gera resistência do produtor em aceitar a novidade tecnológica. “Muitas vezes, o profissional sai da universidade achando que é o ‘dono da razão’ e não dá importância para a experiência do produtor que está há anos sobrevivendo da atividade, às vezes até mesmo sem assistência técnica. É preciso apresentar a tecnologia para os produtores de forma simples e em uma linguagem que eles entendam, mostrando que o seu uso não vem para mudar drasticamente a forma como suas atividades são desenvolvidas, mas auxiliá-lo a buscar melhorias, reduzindo as perdas e aumentado os ganhos”.
Sob o ponto de vista de alguém que acompanha a realidade dos pequenos produtores da região que atua, Daniela defende que outro ponto a ser aprimorado para que esses produtores aumentem a adoção das tecnologias é a redução do custo de implantação das mesmas, para que se torne adequado à realidade do produtor e de sua família. E a presença de um profissional que acompanhe a atividade e o desempenho da tecnologia na prática e mais de perto, dando continuidade à uma assistência técnica que não deixe o produtor sem saber o que fazer com aquela tecnologia adquirida.
É a prestação de um serviço de assistência técnica de qualidade, juntamente com a tecnologia acessível divulgada em uma linguagem coerente ao produtor, que podem agregar muito ao modelo de produção adotado, trazendo rentabilidade e maior qualidade de vida para o produtor e sua família.
Desafios para uso da tecnologia no campo
Com o avanço da agricultura 4.0, houve um crescimento de 1900% no acesso à internet nas propriedades rurais nos últimos anos, saltando de 75 mil estabelecimentos com acesso em 2006, para mais de 1,5 milhão em 2017, segundo o Censo Agropecuário, realizado pelo IBGE. Desse número, mais de 41% declararam ter acesso à internet banda larga, mais de 57% tem acesso à internet móvel e 1,23% ainda navegam por internet discada por linha.
Mas o levantamento também mostra que cerca de 70% dos estabelecimentos rurais do País ainda não possuem acesso à internet. Esse número representa mais de 3,6 milhões de propriedades. Essa falta de acesso compromete em muitos aspectos o uso da tecnologia desenvolvida para funcionar on-line.
E em busca de levar mais tecnologia aos produtores e ainda oferecer conectividade, diversas startups têm desenvolvido trabalhos e tecnologias que se adequem a essa realidade das propriedades rurais. Segundo um levantamento feito pelo fundo de investimentos SP Ventures em parceria com a Embrapa, o país tem mais de 1.100 startups voltadas para a agropecuária, as Agtechs.
Sabendo da deficiência do acesso à internet no campo, muitas startups oferecem, junto com seu produto principal, alternativas de conexão. No caso da gestão de dados da propriedade, os equipamentos registram informações durante o dia e quando chegam a uma área com conexão, transferem os dados para o servidor que gere essas informações. Essa alternativa serve, por exemplo, para fazendas que possuem internet na sede, mas que não consegue se espalhar pelos hectares de produção.
É o campo mais uma vez superando os desafios da conexão e se reinventando com seus profissionais e produtores (as) resilientes, que buscam conectividade para otimizar a produção e se capacitam para atender às novas demandas de um mercado que não para de crescer.
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Este conteúdo integra a websérie Agro 360º, que é uma realização Agromulher, promovida pela Ram do Brasil. Fique ligado (a) nas redes sociais da Agromulher para não perder nenhum episódio!
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