Em um cenário onde se discute cada vez mais o processo de sucessão familiar e as mulheres ganham espaço assumindo os negócios da família, o planejamento sucessório antecipado torna-se uma importante ferramenta para o sucesso da empresa rural
Para mostrar essa força feminina no agro, criamos o quadro “Cultivando mulheres inspiradoras”. Esse quadro de entrevistas trará histórias de superação de grandes mulheres do agro, com todos seus desafios e oportunidades.
Hoje em nossa entrevista, trazemos a história da Advogada na área Cível, Família e Sucessão, Direito Agrário e do Agronegócio, Gabriela Krebs.
Gabriela Krebs é advogada graduada pela FURB/SC, com formação pela ESMESC- Escola Superior da Magistratura de SC, Especialista em Métodos de Resolução de Conflitos, Técnicas de Negociação e Mediação pela Universidad de Castilla la Mancha/Espanha, Especialista em Direito Tributário pela Unijui-RS, Pós Graduanda em Mediação e Negociação pela ESA-FUMEC/MG.
Advogada há mais de 13 anos na área Cível, Família e Sucessão, Direito Agrário e do Agronegócio, Gabriela também é Consultora de Soluções Patrimoniais e Jurídicas no Agronegócio no estado do Rio Grande do Sul. Membro fundadora e Vice -Presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio- IBDAGRO. Neta e filha de produtor rural, atua na defesa de interesses dos produtores rurais, em especial em negociação de dívidas bancárias, planejamento sucessório e patrimonial, bem como no designer e estratégia de soluções.
História com o agro
Gabriela sempre esteve inserida no meio rural, desde a infância. Descendente de alemães, sua família sempre trabalhou na atividade rural. O avô de Gabriela era agricultor e, com o passar do tempo, seu pai e seu tio assumiram o negócio da família e tocaram a atividade. No entanto, por incentivo de seu pai, Gabriela despertou um grande amor pela leitura e acabou encontrando no Direito um meio para exercer as suas habilidades e ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas.
Com a família diretamente ligada no agro e ela engajada na área jurídica, Gabriela acabou voltando para o agronegócio por conta de acontecimentos familiares que a levaram a tomar essa decisão. “Meu pai faleceu em poucos dias, em razão de um câncer, e me deparei com uma série de entraves jurídicos para serem solucionados na propriedade. Não tínhamos feito um planejamento sucessório. Nesse ínterim, a família absorveu alguns prejuízos, com algumas dívidas bancárias a serem negociadas, negociação com fornecedores de insumos; enfim, absorvemos aquela problemática toda e, como única advogada da família, coube a mim a solução”, conta Gabriela.
Diante desse desafio, Gabriela buscou aprimorar seus conhecimentos na área que sempre se identificou e atuou: direito de família. Encontrou a dificuldade de acesso a cursos que só aconteciam nos grandes centros urbanos. Na época não havia facilidade de acesso a cursos online como hoje.
Além disso, Gabriela se atentou para uma demanda regional. A região noroeste do Rio Grande do Sul, onde ela reside, tem sua economia voltada para o setor do agronegócio, seja pelas lavouras de soja, milho, trigo, ou pela pecuária leiteira e gado de corte. “A economia depende quase que 100% da agricultura, fazendo com que as demandas jurídicas sempre estejam atreladas a esse setor, de alguma forma. Mas eu também trouxe como propósito de vida atuar resolvendo as questões jurídicas, visando o desenvolvimento do agronegócio”, relata a advogada.
Desafios e oportunidades
Gabriela destaca como maior desafio o início do trabalho dentro do ambiente familiar. “Como não havíamos feito nenhum planejamento sucessório, realmente foi bem desafiador para mim. Mal sabia direito por onde começar a resolver aquela demanda. Somos quatro irmãos, mas apenas um atuava no campo e somente eu era advogada. Não se falava em Direito do Agronegócio na época, em 2011, como se fala hoje. Na época, com pouco material didático, pouquíssimos advogados especialistas da área e poucos cursos, a especialização nesses temas eram mais difíceis”, conta Gabriela.
Mas em meio a tantos desafios, Gabriela conheceu também um mundo de oportunidades dentro do direito do agronegócio. “Como sempre me identifiquei com o direito de família e com as causas do campo, não foi difícil me apaixonar pelo direito agrário. O direito do agronegócio, como um todo, é muito abrangente, envolve questões dentro da porteira e fora dela também. É um ramo do direito com muitas possibilidades, que nos abre os horizontes”, explica.
Sucessão familiar no agro: negócio de mulher
No que diz respeito a continuidade dos negócios da família no agro, o cenário tem mudado bastante. Gabriela Krebs destaca que “hoje em dia, quando falamos em sucessão familiar rural, o cenário é outro. Antigamente, ouvíamos que se ‘você não estudar, vai ter que trabalhar no campo’, agora, ‘se você quer ficar no campo, você tem que estudar’. Esse fato se dava porque antigamente a vida no campo era muito mais difícil do que é hoje. O agricultor não tinha toda essa tecnologia disponível atualmente”, comenta.
Gabriela também destaca que além da qualificação exigida hoje para manter-se no campo, a presença feminina também na sucessão cresceu consideravelmente. E nesse contexto, ela explica as mudanças mostrando as diferenças entre o passado e o presente da sucessão familiar no campo.
“Historicamente, há alguns anos, em um passado não muito remoto, geralmente eram os filhos homens ou os genros que assumiam os negócios. As mulheres quase não tinham voz durante esse processo sucessório, ou até mesmo durante as decisões que impactavam os negócios. Essa subjulgação e discriminação começava sempre dentro do ambiente familiar. As mulheres ficavam com as atividades domésticas e os filhos auxiliavam o fundador nessas funções de gestão. Vários são os fatores desse fenômeno, a questão cultural, que envolve não só o agronegócio, mas em outros segmentos também; e as mulheres não eram estimuladas a estudar sobre as questões que envolviam o negócio da família, a se habilitar para assumir as funções de gestão”. Com conhecimento de causa, Gabriela destaca:
“Sucessores não nascem prontos, precisam de preparo, de estudo e de conhecimento daquela atividade para o negócio expandir”.
“Hoje os tempos são outros. Esse movimento de empoderamento feminino no agro está em ascensão. Estamos mais cientes das nossas habilidades, sejam elas de gestão, administração, finanças, lideranças ou negociações. Podemos ser o que quisermos ser. Na minha avaliação, as mulheres são mais antenadas, mais abertas à inovação, às tecnologias, buscam aprender e são mais empreendedoras. Ressalto ainda o fato de sermos mais resilientes do que os homens. A atividade rural demanda muita resiliência. De um modo geral, somos gestoras natas. Gerimos a vida doméstica muito bem. Somos organizadas e competentes. Percebi nesse tempo atuando no agro que nas empresas rurais onde as mulheres estão à frente do negócio, existe um clima familiar entre os funcionários e os gestores. Um clima harmonioso onde os colaboradores se sentem parte daquela história”, comenta.
“Nós mulheres, usamos muito bem nossa sensibilidade para liderar pessoas. Negócios são pessoas, e nós mulheres, intuitivamente, sabemos lidar melhor com as pessoas, porque nos comunicamos melhor que os homens, seja por habilidade, seja por intuição”, considera.
Exemplo de vida
No que diz respeito a como se preparar para a sucessão familiar, Gabriela Krebs dá dicas e sugestões de quem viveu na pele as dificuldades de um processo sucessório não planejado, com uma série de intempéries que culminou na extinção da atividade rural iniciada pelo avô.
“Meu conselho hoje é que planejem a vida da empresa familiar, se a intenção é que ela perpetue com o tempo, de geração em geração. Planejamento é empoderamento. Você deve decidir quais serão as diretrizes daquele negócio, quem irá administrar e quais são as regras. Isso é poder. A mulher está sempre mais aberta a mudanças, ao conhecimento do novo, pensa no futuro. Muitas vezes precisa dar esse ‘empurrãozinho’, para que a família repense na missão e nos valores iniciados pelo fundador. Para ajudar nesse processo, a lei disponibiliza uma série de ferramentas para atender as peculiaridades de cada família”, aconselha a advogada.
Mas além das questões legais, existem questões familiares e pessoais que devem ser levadas em consideração. “Uma questão primordial é ter clareza sobre a missão de vida da família. Isso é um processo que demanda tempo e carinho e deve começar cedo, com os filhos ainda jovens, criando-se mecanismos, através de acordo de sócios, estipulando as diretrizes ou até através de conselhos de família, visando difundir a história de vida daquela empresa”, salienta.
Além disso, outro ponto merece atenção. Segundo a advogada, dados mostram que 60% empresas familiares são extintas por falta de uma boa comunicação entre os seus membros. “Isso se dá porque não nascemos sabendo nos relacionar, nos comunicar. E as famílias somatizam os problemas pessoais levando para o ambiente empresarial. Precisamos aprender a nos comunicar”, reitera ela.
De agro mulher para agro mulher
Diante de todo esse cenário apresentado pela advogada Gabriela Krebs, ela destaca a importância das mulheres “desenvolverem suas habilidades e se prepararem para assumir cargos de gestão e de liderança, começando pelo autoconhecimento, que é a base de tudo. Uma autoestima fortalecida reflete em todos os setores da vida”.
“Somos o que estudamos. Capacitem-se. Assumam as empresas com segurança adquirida por meio do desenvolvimento pessoal e da capacitação técnica, descobrindo quais são suas soft skills e como vocês podem fazer uso delas. Descubram suas aptidões e trabalhem em cima delas. Unam-se a outras mulheres com o mesmo propósito. Empoderem-se! O mundo é daquele que ousa conquistar”. Gabriela Krebs, Advogada
A história de Gabriela é mais uma das muitas histórias inspiradoras que vamos cultivar por aqui. Acompanhe nosso quadro e se inspire com a gente e com essas grandes agro mulheres!